Diálogo a Beira-Mar

     Sentado a beira-mar estava um homem, entregue as belezas do oceano. Tal homem estava tão distraído, que não percebeu que uma bela dama sentava-se ao seu lado. Porém ele não permaneceu assim por muito tempo, pois a voz daquela mulher hipnotizou-lhe quando falou:
     -Que bela obra de arte, não?
     -Sim! - Ele respondeu com os olhos agora fixos nela. E que olhar aquela mulher tinha. Olhar vago, cavalgando o infinito, e ao mesmo tempo tão presente e tão feliz.
     -Parece ser obra do acaso, essa vastidão tão perfeita? - Sua voz soou sonhadora, apaixonada!
     O homem voltou a contemplar aquela imensidão céu-mar, quase sem fim, e disse-lhe:
     -Sinceramente, não sei! Gostaria muito de acreditar em alguém ou algo, Deus ou um Arquiteto Superior. É difícil acreditar que essas coisas tão perfeitas, tão calculadas, sejam obras do acaso. Porém, do mesmo modo que é difícil imaginar que tudo veio do caos, é difícil, ou mais, conceber a idéia de um ser que parece ser surdo, cego e mudo. Queria poder conversar com Ele, ouvir sua voz, ao menos uma vez!
     Após minha resposta a mulher ficou um tempo a contemplar, também, a imensidão, mas logo falou:
     -Você não consegue ouvi-lo?
     -Não!
     -Escute a melodia universal e você o ouvirá cantando. Perceba no silêncio do da noite como ele fala com você! Ele está sempre nos falando, silenciosamente, sempre respondendo nossas perguntas. Aprenda a escuta-lo. E você também não o vê, certo?
     -É o que eu penso... - Falou ele com incerteza.
     -Melhor pensar de novo! Olhe bem para o mar, para o céu. Olhe as estrelas a noite, a ave que dança livremente no ar. Olhe o desabrochar de uma flor, o sorriso de uma criança. Olhe para todas essas coisas boas e você verá a sorridente face de Deus. Olhe para as crianças mortas, para o desmatamento. Olhe para as feridas nos homens, para o mal crescente. Olhe para todas essas coisas tristes e más e verás as lágrimas escorrerem como uma cascata da face de Deus.
     O homem escutou isso tudo e ficou calado, entregue a um estado de profunda reflexão. Quando, finalmente, foi dizer algo em relação aquilo tudo, se viu só novamente. Aquela misteriosa mulher desapareceu, da mesma forma que surgiu, do nada. Mas ao olhar para o lugar onde ela estivera sentada, viu uma pena, que colocou cuidadosamente entre seus dedos. Olhou fixamente para aquela branca pluma, e pensou: "Ele também sabe ouvir!"
     O homem ali, sozinho, gargalhou alegremente em êxtase, e embriagou-se de uma profunda paz. "Mesmo que seja passageiro, essa com certeza é uma das melhores sensações que já senti", foi o que ele sussurrou apenas para o vento ouvir, lançando a pena aos céus.